terça-feira, 17 de março de 2009

WATCHMEN - O FILM"AÇO!"

Ok. Vamos aos finalmentes.

Nessas duas semanas que passaram desde a estréia de Watchmen em cinemas do mundo todo, assisti o filme duas vezes. A primeira, obviamente na estréia (pq eu não aguentava mais esperar #fanboy) e a segunda uma semana depois em resposta ao pedido dos roteiristas do filme para que os fãs assistissem o filme mais uma vez.

Tá mentira. Não foi exatamente por isso, mas porque eu queria ter um olhar mais técnico sobre o filme desta segunda vez que eu vi. A primeira vez estava toda impregnada com o meu lado fanboy e a empolgação de ver um gibi tido como "infilmável" nas telonas. Pra uma crítica decente eu precisava ver o filme de novo, pra prestar atenção em todos os detalhes. Foi uma boa, confesso. Me fez ver melhor e confirmar que Watchmen é sim uma ótima adaptação. Quem pensa o contrário, acho que ou deveria ver o filme novamente, ou ler a HQ novamente, ou fazer as duas coisas (e conseqüentemente aprender a diferença entre "adaptação" e "transcrição"). Mas apesar de ser uma ótima adaptação, é um filme fraco.

Essencialmente feito por um fã, para os fãs, com o público normal ele peca em diversos pontos. A começar pelo ritmo desregulado que passeia por origens e inúmeros flashbacks, além de uma trama envolvendo um assassinato, a tensão da Guerra Fria, um possível holocausto nuclear com pitadas de complexidades de personagens ainda não vistas nos filmes de super-heróis (sejam eles os mais antigos ou os mais novos). A bilheteria "baixa" pro que era esperado (US$55 Mi ao invés dos esperados US$70 Mi) comprova que, assim como a HQ, Watchmen - o filme é difícil de ser digerido pelo público comum de cinema. E quer saber? Pra mim é uma coisa boa!

Um dos pontos que eu argumentei com amigos sobre o filme era a minha completa incerteza quanto a fidelidade dele. Eu não me referia unicamente ao visual ou sequer aqueles detalhes chatinhos que só fã sabe reclamar. Na verdade, tudo começou com o trailer divulgado, que vendia um filme de ação com observações como "do visionário diretor de 300"... então eu imaginava que a profundidade de Watchmen seria reduzida àquela mesma "profundidade" a que X-men 3 se propunha, onde eles discutiram a "cura" mutante por cinco minutos de película pra terminar numa pancadaria generalizada de mais de meia hora no final.


Tudo em Sloooow mooootioooooonnn!

O fato de Zack Snyder ter no currículo o remake de Madrugada dos Mortos e a adaptação de 300 de Esparta também não ajudavam. Isso porque ambas as obras originais já não prezavam por um grande desenvolvimento de personagens e roteiro. 300, por exemplo é uma HQ do Frank Miller que tem muito mais hype do que qualidade. Ok, visualmente o filme é realmente inovador e tal... inclusive há um melhor desenvolvimento da história, mas enfim, convenhamos: Dar profundidade a qualquer trama de Frank Miller pós-Cavaleiro das Trevas não é exatamente um mérito. Em matéria de profundidade, eu uso a minissérie pra servir café em casa.

De qualquer maneira, eu argumentava que ou "watchmen vai ser um filmaço pipoca com muita ação e nada da história original e vai ser um sucesso" ou "ele vai ser extremamente fiel e um fracasso de bilheteria". E olha só o que aconteceu!

Sobre a HQ

Para não me taxarem de fanboy exagerado, argumento aqui rapidamente sobre a minissérie ("graphic novel" de cu é rola) : Ela não é tida como a melhor história em quadrinhos de todos os tempos à toa. Com ela, Alan Moore quebrou paradigmas e redefiniu todos os conceitos de gibis de super-heróis na metade dos anos 80. Ele acabou com aquilo de "homens de colante meramente se esmurrando na rua" e provou por A+B que, sim, mesmo super-heróis podem ser personagens bem desenvolvidos. Isso sem mencionar a quantidade de simbolismos, metalinguagem, escolhas de planos, estrutura de quadros que fazem da HQ o que é. Nada é gratuito. Tudo tem um significado. Tanto que cada vez que ela é lida, um significado novo surge. Uns dizem que é sobre o tempo. Outros sobre existência. Outros ainda sobre o certo e o errado. É o tipo de questionamento que só obras-primas levantam e é isso que é o gibi: a Obra-prima de Alan Moore. Jamais alguém (ou ele mesmo) fará algo semelhante.

Dada a importância que ela tem neste mundo do qual você (provavelmente) não faz parte, agora entramos verdadeiramente no assunto que interessa:

Sobre o Filme

Bom pro fã, ruim pro público geral. Isso porquê, como acontece com qualquer adaptação, a obra original é sempre mais rica em detalhes e, conseqüentemente, melhor. É um argumento praticamente inquestionável (mas sempre existem exceções como... 300 ou Harry Potter e a Ordem da Fênix). Portanto, muitas coisas que só enriquecem a HQ foram deixadas de lado e, muito embora tenham sido prometidas nos vindouros DVDs, fazem uma certa falta no resultado final. Outra é o ritmo meio desregulado e mesmo sabendo dosar as cenas de ação (e aumentando onde elas realmente poderiam ser aumentadas) algumas conclusões podem parecer meio "rápidas demais".

Mas mesmo com isso, acredito que a melhor parte do filme pra todo mundo foram os créditos iniciais: simplesmente embasbacante! Snyder conseguiu resumir toda uma série de detalhes que achávamos (ou eu achava) que seriam impossíveis de serem encaixados no filme e, em praticamente cinco minutos ele resumiu algo em torno de três décadas de background de personagens! E tudo isso ao som de Bob Dylan! Não é pra amar?



A escolha das músicas também foi outro ponto muito feliz. Conseguiram situar cada momento, cada época retradada através de suas respectivas músicas. Como a trama principal se passa em 1985, nada mais justo que boa parte da trilha fossem sucessos dos anos 80 como Everybody Wants to Rule the World em um saguão ou Hallellujah em uma cena mais... picante (e conseqüentemente cômica). Eu não encaro essas opções como bônus pros fãs, mas como um modo de situar o "outro público" do filme. Me digam se funcionou, porque se a censura é 18 anos, vocês devem, no mínimo, ter nascido em... 1991?! É, deixa pra lá. É filme pra galera de quase trinta mesmo.

O figurino é outro ponto importante e funcionou espetacularmente. Cada uniforme retrata (e aí sim pro "não-fã") o conceito de super-heróis de cinema. Por isso o Coruja tem uma roupa parecidíssima com a do novo Batman, ou mesmo Ozymandias com um uniforme semelhante aos utilizados por George Clooney no Batman do final dos anos 90. Até mesmo os heróis dos anos 40, os Minutemen, possuem uniformes extremamente coloridos que guardam uma assustadora semelhança com os uniformes dos seriados do Super-homem da mesma época ou mesmo do (de novo?!) Batman dos anos 70: Panos, colantes e meias-calças constrangedoras. É um desbunde pros olhos.

A escolha de atores também foi muito boa, a exceção de Malin Ackerman que serviu praticamente pra ser um rostinho e um par de seios bonitinhos na tela como a Espectral e do afetado Ozymandias de Matthew Goode. No caso específico dele, eu meio que "culpo" a direção de atores (ou os executivos) que pintam ele como um babaca desde o início. Não dá pra saber se é culpa do cara, ou não. De resto, Jeffrey Dean Morgan como o Comediante é um deleite! Ele incorporou como poucos conseguiriam o espírito louco, psicótico e desregrado do personagem.

Billy Crudup, mesmo coberto de CGI entregou um simplesmente perfeito Dr. Manhattan! A voz, as poses, o distanciamento humano era tudo o que se podia imaginar ao ler a HQ e visualizar aquele homem-vitruviano-semi-deus pintado de azul-smurf. A seqüência dele deixou um pouco a desejar em relação ao original, mas putz. Ficou bom mesmo assim! Patrick Wilson foi uma agradável surpresa como o Coruja. De um bobão covarde e barrigudinho de óculos a um mothafucking hero ao vestir o uniforme, ele conseguia variar muito bem todo o trauma de um cara que só consegue ser um homem com "agá" maiúsculo quando veste um uniforme pra cobrir bandidos de porrada.

E por final, Jackie Earle Haley foi simplesmente sublime como o vigilante Rorschach. É um daqueles casos de "pular dos quadrinhos para a tela" que ocorrem com certa freqüência em filmes assim (a minha reação a ele foi a mesma que eu tive ao ver o J.J. Jamenson do J.K. Simmons em Homem-aranha). Os constantes pigarreios, a movimentação, a maneira de lutar, o modo paranóico de narrar a história como aqueles velhos romances noir... Eu vibrava a cada aparição dele. Simplesmente fantástico!Agora, ainda evitando os spoilers pra quem ainda não viu, o ponto de talvez maior discordância entre os fãs e os responsáveis pelo filme:

Sobre o Final

É fato conhecido: Não há lula gigante no final! Pra quem não leu, acrescento que mesmo para os fãs de quadrinhos acostumados aos maiores absurdos nas páginas dos gibis, o final de Watchmen envolve um dos maiores "WTF?!" da História! Infelizmente, mais do que isso, eu corro o risco de estragar o filme também, mas vale dizer que mesmo sendo um grande "Que porra é essa?" ele ainda faz muito sentido quando tudo é finalmente revelado. Portanto, o filme manteve este sentido final necessário, muito embora o caminho escolhido pra chegar a ele tenha sido consideravelmente diferente. E quer saber?

Funciona! E muito bem.

Já ouvi opiniões diversas de porquê gostaram e porquê não gostaram, mas confesso. Não me importa. Eu achei que fez completo sentido e que, em diversos pontos, foi consideravelmente melhor que o original. Dito isso, me preparo pra qualquer eventual ataque empunhando meu escudo espartano, armando meu lançador de teia e vestindo a minha sunguinha de couro! #FAIL

Em resumo, Watchmen é um puta filme controverso. E apesar de ter gostado muito e de defendê-lo ardorosamente perante hordas infindáveis de fãs que o odiaram eu não acho que ele tenha feito pelo filão de Filmes de Super-heróis o que a HQ fez para os gibis em 1986-87 quando foi publicada.

Via Caixa de Mensagens

Nenhum comentário: